sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Quando 10 centavos valem mais que 1.000 reais - (Mc 12,38-44) - Mesters e Lopes



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QUANTO 10 CENTAVOS VALEM MAIS QUE 1.000 REAIS...
DEUS SE REVELA NA PARTILHA DA VIÚVA POBRE
Marcos 12,38-44

Texto extraído do livro CAMINHANDO COM JESUS - Círculos Bíblicos do Evangelho de Marcos (2ª parte) - Coleção A Palavra na Vida 184/185. Autores: Carlos Mesters e Mercedes Lopes. CEBI Publicações. Saiba mais no endereço vendas@cebi.org.br.


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No texto de hoje, Jesus elogia uma viúva pobre porque ela soube partilhar mais do que todos os ricos. Muitos pobres de hoje fazem o mesmo. O povo diz: "Pobre não deixa morrer de fome". Mas às vezes, nem isso é possível. Dona Cícera, que veio do interior da Paraíba para morar na periferia de João Pessoa, dizia: "No interior, a gente era pobre, mas tinha sempre uma coisinha para dividir com o pobre na porta. Agora que estou aqui na cidade, quando vejo um pobre que vem bater na porta, eu me escondo de vergonha, porque não tenho nada em casa para dividir com ele!" De um lado: gente rica que tem tudo, mas não quer partilhar. Do outro lado: gente pobre que não tem quase nada, mas quer partilhar o pouco que tem. Vamos conversar sobre isso.

COMENTANDO
Marcos 12, 38-40: Jesus critica os doutores da Lei
Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento ganancioso e hipócrita de alguns doutores da Lei. Estes tinham gosto em circular pelas praças com longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. Eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de dinheiro! E Jesus termina: "Essa gente vai receber um julgamento mais severo!"
Marcos 12, 41-42: A esmola da viúva
Jesus e os discípulos, sentados em frente ao cofre do Templo, observavam como todo  o mundo colocava aí a sua esmola. Os pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo o mundo trazia alguma coisa para a manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação do prédio. Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não havia previdência social. Os pobres viviam entregues à caridade pública. Os pobres que mais precisavam da ajuda dos outros eram os órfãos e as viúvas. Estas não tinham nada. Dependiam em tudo da caridade dos outros. Mas mesmo sem ter nada, elas faziam questão de partilhar. Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do Templo. Poucos centavos apenas!
Marcos 12, 43-44: Jesus aponta onde se manifesta a vontade de Deus
O que vale mais: os 10 centavos da viúva ou os 1.000 reais dos ricos? Para os discípulos, os 1.000 reais dos ricos eram muito mais úteis para fazer a caridade do que os 10 centavos da viúva. Eles pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito dinheiro. Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dito a Jesus: "O senhor quer que vamos comprar pão por 200 denários para dar de comer ao povo?" (Mc 6,37). De fato, para quem pensa assim, os 10 centavos da viúva não servem para nada. Mas Jesus diz: "Esta viúva que é pobre lançou mais do que todos os que ofereceram moedas ao Tesouro". Jesus tem critérios diferentes. Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva, ele ensina onde eles e nós devemos procurar a manifestação da vontade de Deus, a saber, nos pobres e na partilha.

ALARGANDO
Esmola, partilha, riqueza
A prática de dar esmolas era muito importante para os judeus. Era considerada uma "boa obra", pois dizia a lei do AT: "Nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do teu humilde e do teu pobre em tua terra" (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no cofre do Templo, seja para o culto, seja para os necessitados, os órfãos ou viúvas, eram consideradas como uma ação agradável a Deus. Dar esmolas era uma maneira de se reconhecer que todos os bens e dons pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores e administradoras desses dons, para que haja vida em abundância para todas as pessoas.
Foi a partir do Êxodo que o povo de Israel aprendeu a importância da esmola, da partilha. A caminhada dos 40 anos pelo deserto foi necessária para superar o projeto de acumulação que vinha do faraó e que estava na cabeça do povo. É mais fácil sair do país do faraó que deixar a mentalidade dele. Ela é sutil demais. Foi preciso experimentar a fome no deserto para aprender que os bens necessários à vida são para todos. Este é o ensinamento da história do maná: "Nem aquele que tinha juntado mais tinha maior quantidade, nem aquele que tinha colhido menos encontrou menos" (Ex 16,18).
Mas a tendência à acumulação era e continua muito forte. Fica difícil uma pessoa livrar-se dela totalmente. Ela renasce sempre no coração humano. É com base nesta tendência que os grandes impérios da história da humanidade se formaram. Ela está no coração da ideologia destes impérios. Assim, cerca de 1.200 anos depois da saída do Egito, Jesus vai mostrar a conversão necessária para a entrada no Reino. Ele disse ao jovem rico: "Vai, vende tudo o que tens, dá aos pobres" (Mc 10,21). A mesma exigência é repetida nos outros evangelhos: "Vendei vossos bens e dai esmolas. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói" (Lc 12,33-34; Mt 6,9-20). E Mateus acrescenta o porquê dessa exigência: "Pois onde está o teu tesouro aí estará também o teu coração" (Mt 6,21).
A prática da partilha e da solidariedade é uma das características que o Espírito de Jesus, comunicado no dia de Pentecostes (At 2,1-13), quer realizar nas comunidades. O resultado da efusão do Espírito é este: "Não havia entre eles necessitado algum. De fato, os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e o colocavam aos pés dos apóstolos" (At 4,34-35a; 2,44-45). Estas esmolas recebidas pelos apóstolos não eram acumuladas, mas "distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade" (At 4,35b; 2,45).
A entrada de ricos na comunidade cristã, por outro lado, possibilitou uma expansão do cristianismo, dando melhores condições para o movimento missionário. Mas, por outro lado, a acumulação dos bens bloqueava o movimento da solidariedade e da partilha provocado pela força do Espírito de Pentecostes. Tiago quer ajudar estas pessoas a perceberem o caminho equivocado no qual estão metidas: "Pois bem, agora vós, ricos, chorai por causa das desgraças que estão a sobrevir. A vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças" (Tg 5,1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos precisam tornar-se alunos daquela viúva pobre, que partilhou tudo o que tinha, o necessário para viver (Mc 12,41-44).
 Fonte: CEBI

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