sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Festa de Cristo Rei do Universo - Dia dos Leigos e Leigas



Jesus é rei, mas um rei diferente (Jo 18,33-37) - Mesters, Lopes e Orofino

por CEBI Publicações
JESUS É O REI, MAS UM REI DIFERENTE
João 18, 33-37

O fragmento abaixo foi extraído do livro "Raio-X da Vida". Círculos Bíblicos do Evangelho de João. Coleção A Palavra na Vida 147/148. Autores: Carlos Mesters, Mercedes Lopes e Francisco Orofino. CEBI Publicações. Saiba mais emvendas@cebi.org.br

Os líderes dos judeus tinham acusado Jesus de ser um malfeitor. Pilatos pergunta: "Você é o rei?" Para o poder romano que ocupava a Palestina, a pessoa que se proclamava rei sem licença de Roma era o mesmo que malfeitor. Naquele tempo, várias pessoas já tinham aparecido como "rei dos judeus". Elas queriam libertar o povo da dominação romana. O povo ia atrás delas. Mas todas elas, sem exceção, foram presas e executadas pelo poder romano.
Pilatos achava que Jesus fosse um rei daquele mesmo tipo. De fato, Jesus é rei, mas um rei diferente: sem exército e sem súditos. Seu poder é o serviço. Seu trono é a cruz. Seu objetivo é paz e vida para todos. Sua arma é a verdade. "Quem é pela verdade escuta a minha voz!"


Festa de Cristo, Rei do Universo - Marcel Domergue

Quinta-feira, 22 de novembro de 2012 - 23h01min
por Instituto Humanitas Unisinos (IHU)
O poder do Cristo se exerce suprimindo do universo a própria raiz da violência. É preciso, aqui, entender a violência, em sentido bastante amplo, como a tentativa de fazer substituir por nossa vontade a liberdade dos outros. Mas como será possível reinar sem se impor?
1. O poder. A expressão "Cristo Rei" é, na verdade, um pleonasmo. Mas significa que o Cristo de Israel assume um poder universal sobre a humanidade e sobre a natureza à qual a humanidade está vinculada. Não há nada de mais inquietante do que a possibilidade humana de uns pesarem sobre a liberdade dos outros; de uns dirigirem os outros. Com que direito? A que título? A humanidade, desde sempre, tem inventado sistemas para designar quais devam ser os detentores da autoridade: se por herança, por eleição... Pois parece ser indispensável haver uma autoridade, para poder se conter os riscos da violência nascidos da selvagem competição. Cada um de nós aspira, de fato, a deter algum poder, porque, além de outras vantagens, isto nos dá segurança com respeito à nossa importância, ao nosso valor, e nos põe no centro das atenções. Existe, sim, uma busca pelo poder. Como dizia um político: "uma vez experimentado o poder, não se pode mais passar sem ele". O poder é uma droga que faz o homem esquecer a sua fragilidade. A busca pelo poder vicia, porque o que justifica o poder é, antes de tudo, "a desigualdade"; ou seja, a superioridade. E uma superioridade que deve ser real: a de quem sabe mais, é mais inteligente, tem maior espírito de decisão... Coisas todas que podem justificar o exercício um poder sobre os outros, ao menos provisoriamente, e, melhor, sendo aceito este poder. Todos nós exercemos poderes, em virtude de nossas competências ou responsabilidades: poderes que exercemos dentro dos nossos domínios e à medida de nossa condição (em casa, na família, na profissão, etc.). Qual seria então o poder do Cristo?
2. Qual poder? Jesus disse a Pilatos que a sua realeza não é deste mundo. Significa que não lhe foi conferida pelos homens. Não a recebeu nem de sua nação nem dos chefes dos sacerdotes. Significa também que não a exerce como os outros soberanos normais. Ele não tem guardas nem exércitos e não faz "sentir o seu poder". A sua realeza não é, enfim, da mesma natureza que as outras: não visa a conter nem reprimir a violência possível nas relações humanas, projeto este que supõe o exercício de uma violência superior, o exercício da sujeição. O poder do Cristo se exerce suprimindo do universo a própria raiz da violência. É preciso, aqui, entender a violência, em sentido bastante amplo, como a tentativa de fazer substituir por nossa vontade a liberdade dos outros. Mas como será possível reinar sem se impor? É o que Jesus responde a Pilatos: "Vim para dar testemunho da verdade". E o que é a verdade? Num certo sentido, é o próprio Deus, mas podemos tentar ser mais precisos: para o homem, a verdade é o que o faz existir realmente, o que o põe em direção à sua criação. A mentira, pelo contrário, é o que o engana, levando-o a uma via sem saída e a enredar-se em impasses. Existe, pois, uma conivência entre o homem e o testemunho do Cristo: a verdade se impõe (poder) porque ela é a própria vida do homem. Como diz Paulo (2Cor 13,8): "Não temos poder algum (...) exceto pela verdade".Verdade que ultrapassa quem a anuncia. O que justifica o poder do Cristo é que Ele convoca o homem à sua plena realização.
3. Qual tomada do poder? Cristo toma o poder - em parte, mas é fundamental - através de uma demonstração: submetendo-se à violência (submissão que é o contrário do poder). Ele mostra publicamente que o poder verdadeiro não é poder-dominação, manifestando assim a vaidade e a perversidade das condutas que visam a dispor-se dos outros. Este aniquilamento do Cristo foi apresentado por João como um "elevar-se": o Cristo crucificado foi levantado da terra e, naquele momento, os olhares todos se voltam para ele. Ele atrai todos os homens, porque a verdade atrai tudo o que em nós existe de verdadeiro. Por que a palavra "demonstração"? Porque Jesus põe a nu, diante dos nossos olhos, o pecado do homem, a sua mentira, e a verdade do amor. Ele não nos impõe a verdade, pois isto seria voltar às atitudes de violência que são o contrário da verdade; sem sentido, portanto. Ele nos mostra a verdade: "Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz" (Jo 18,37) e se torna seu discípulo. Esta é a Realeza do Cristo, não semelhante a nenhuma outra, uma vez que se apresenta sob a figura do contrário da realeza. O senhor é aquele que se faz o servidor e só pode ser senhor quem se faz servidor.

Meu Reino não é deste mundo? (João 18,33-37) - Edmilson Schinelo e Ildo Bohn Gass

Quinta-feira, 22 de novembro de 2012 - 23h39min
por Centro de Estudos Bíblicos (CEBI)
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Para Jesus, a morte se mostrava iminente. Talvez lhe restasse apenas uma saída: fazer o jogo do poder, oferecido por Pilatos. Isso significaria abandonar o projeto que tinha assumido e proposto a seu grupo de seguidoras e seguidores. A conversa é tensa e Jesus pouco fala. O mundo de Pilatos não é o seu.
É assim que a comunidade joanina nos descreve o confronto entre dois projetos: o "mundo" e o "Reino". Ao ser indagado, Jesus assume a sua realeza. Mas esclarece: "Meu Reino não é como os reinos deste mundo" (João 18,36).
Na história da interpretação dos textos joaninos, com certeza essa é uma das frases que mais serviu para manipular a proposta de Jesus. Muitos a interpretaram como a afirmação de que a missão de Jesus foi "salvar almas para depois da morte" e não salvar vidas. Seu Reino foi jogado apenas para o céu (o pós-morte), como se Jesus não tivesse dito em sua oração: "venha o teu reino, seja realizada na terra a tua vontade, como é realizada nos céus" (Mateus 6,10).
           
Meu Reino não é como os reinos deste mundo                       
Nos escritos joaninos, o termo mundo significa tudo o que se opõe ao projeto de Deus. Uma tradução mais adequada da resposta de Jesus a Pilatos poderia ser: Meu reino não é como (de acordo com, conforme) este mundo. Ora, as comunidades joaninas sabiam muito bem como era o mundo de Pilatos, representante do Império Romano na Judeia. O mundo do Império impunha seu poder pela força das armas e pelas negociatas e artimanhas, entre relações desleais, corruptas e corruptoras. A proposta de Jesus é outra, seu Reino não compactua com este mundo.
O Reino de Jesus se apoia no poder serviço (João 13), que não busca prestígios, mas que doa sua vida até a morte na cruz para que a vida aconteça em plenitude (João 10,10). 
  
Jesus é rei, mas de outro projeto político
Muitas vezes, a frase em questão também é utilizada para justificar a postura de gente que afirma que "política e religião não se misturam". No intuito de justificar seu comportamento religioso teoricamente apolítico, pessoas e grupos também "espiritualizam" a leitura do movimento de Jesus: enquanto "rei espiritual" dos judeus, o Mestre almejava anunciar uma mensagem de paz totalmente espiritual e religiosa. Infelizmente, não raras vezes, muitos dos que defendem essa postura, se líderes religiosos, vivem atrelamentos vergonhosos com políticos e empresários. E, se políticos ou empresários, quase sempre pedem as bênçãos de um líder religioso para suas ações e seus empreendimentos financeiros. Justificar o sistema com elementos e símbolos religiosos não seria, portanto, juntar religião e política. Questionar o sistema por meio da fé, isto seria.  
A proposta de Jesus é uma proposta religiosa, de vivência de uma espiritualidade radical, que não se contenta com a superficialidade, mas vai até raízes mais profundas. Por essa razão, uma proposta altamente política. Ele mesmo, no capítulo 17, roga ao Pai pelos seus: "Eles não são do mundo, como eu não sou do mundo. Mas não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno" (João 17,14b-15).

Quem é da verdade, escuta minha voz  
A concepção hebraica de verdade difere da mentalidade greco-romana. Enquanto para Aristóteles "a verdade é a adequação do pensamento à realidade", para um hebreu autêntico, verdadeira é a pessoa fiel ao projeto de seu Deus e de sua comunidade. Verdade é sinônimo de fidelidade.
Em sua conversa com Pilatos, Jesus não tem receio de afirmar: "Vim ao mundo para dar testemunho da verdade" (João 18,37). Testemunhar a verdade é doar a vida até as últimas consequências. É fidelidade ao projeto amoroso do Pai.
"E quem é da verdade, escuta a minha voz". Quem decide viver a verdade, o amor fiel, adere ao projeto de vida que vem do Pai, tal como a ovelha, ao ouvir a voz do seu pastor, segue-o pelo caminho (João 10).
Para a comunidade joanina, romper com os reinos deste mundo é assumir uma forma de espiritualidade que estimule relações alternativas, de justiça e de ternura, de partilha e de paz. A paz, fruto da justiça e não a paz imposta pelas armas dos impérios deste mundo (João 14,27).

* Assessores do CEBI. Ildo Bohn Gass é autor livro A oração de Jesus e outras obras.Edmilson Schinelo é colaborador no livro Advento, Natal e Ano Novo e outros.

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